quarta-feira, 20 de abril de 2011

Caminho descalça. À medida que as pedras , molhadas pela chuva, me magoam os pés acho que o que escorre não é água, não é sangue,não sei ao certo o que será. É amor, acho. Aquele que me vem das entranhas e percorre o corpo até sair, desta maneira. Aquele que procura saída porque já ocupa espaço de tão grande que é. Talvez por não poder ser compartilhado contigo. Talvez por querer ser guardado pelo coração mas por outro lado a cabeça já não o aguentar ali, a apodrecer. Começa a tornar-se um vício olhar para aquela pulseira e chorar, tocar no meu próprio coração e magoar. Porém gosto de o fazer porque me lembro que há cerca de 1 mês a minha vida era perfeita. Tremem-me as pernas. Só mais um dos óbvios sinais de que estou sem forças para continuar. Pela cara, sim sei o que escorre- lágrimas (um líquido estranho, transparente, salgado e tristonho). Que giro, estou a chorar. Porque é que aquelas pessoas ali ao fundo, todas sujas estendem as mãos a quem passa ? E eu sinto-me apenas mais uma delas. Tão feia, pobre, triste e vulnerável quanto elas. Mas continuo a caminhar, sem nada para me proteger, só o meu vestido branco encharcado e roto. O orgulho ficou pelo caminho junto dos sapatos. Não vou cair, não vou cair. Entro em casa finalmente. É só mais um grito habitual da minha mãe e um bater de porta incontrolavelmente desrespeitador. Enfim, fico no quarto. Olho pela janela a desgraça dos outros como se me fizesse sentir melhor, mas não sinto. Tenho o meu mundo, porque viver a vida real já não serve de vida para mim.

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